dezembro 17, 2010

Apesar de tudo
Sonia Regina

"E assim, neste natal, como em todos os outros já vividos,
meu jesus haverá de vir passear.
E eu estarei esperando..."

Elaine Tavares


O sol está esplendoroso e é só. Ninguém se delicia com o ar morno, o pátio está vazio de gritinhos infantis. O natal vem chegando com brilhos fabricados e não existem pirilampos na cidade.
Sonhos estão em baixa. A incerteza grassa e atravessa fronteiras, o espanto não é somente uma colisão poética de versos bem conseguidos: o cotidiano surpreende, mas não pela beleza.
Pesadelos são emoções espetadas no tempo e capturar vagalumes em uma imensidão negra é se deparar com as impossibilidades do despropósito.   Relíquias do campo, aos camponeses. Aos urbanos, a cidade e seu burburinho de desejos impossíveis quando a convocação da natureza é frouxa e escutá-la é puro exercício mental de um romantismo ultrapassado.
Imagens trocam de lugar na mente como se estivessem dentro de um caleidoscópio gigante que gira vertiginosamente. A nostalgia tenta se abater sobre os tempos modernos, a civilização está cansada de inventar. Lástimas e forças que depõem armas são um cenário nada incomum.
A poesia é rara numa humanidade doente. Diversas nuances de cinza existem na realidade recoberta de noite. Pessoas unem-se por fios entrelaçados e confusos que nada têm a ver com ninhos ou malhas protetoras. A paisagem não necessita dos namorados ou das crianças, as tardes de verão acontecem sem a algazarra infantil.

* * *

Muito perto tocam os sinos da igreja e, por um momento, a cristandade se realiza no ar. Frases vêm das entranhas e ganham novos significados por ordem da carne em júbilo próximo. Pedras suavizam a crispação. Os ferimentos da alma iniciam a cicatrização quando os afetos desossados fluem e gestam a restauração. A dor abandona a complacência do espelho.
A escrita do invisível não chega despida à borda da página e, enfim, pode inscrever-se aquilo que existe independente de crença. O que há de condensado nas letras J E S U S exerce uma vivacidade grávida de esperança. A homenagem ao seu nascimento expressa a fé de que no mais difícil anoitecer sempre haja uma luz.

Sonia Regina


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