junho 11, 2011

Grinalda Poética


Breve Interjeição

 
                        Eliana Crivellari
 
 
Cultos e ocultos e incultos
São jogos tão somente.
Em duas palavras
Não falo...
 
Em dois versos não rimo
 
Em dois momentos
Não me faço decisão
Nem comunhão
 
Quero  átonas ,tônicas,
Pro...paroxítonas
Bem acentuadas
Todas as oxítonas
 
Não finalizadas em i
Não terminadas em  u
 
(Que sejam como marré deci
Que sou pobre, pobre, pobre
Pobre de mim)
 
Como maré
Sejam.
Que a maré pede Fé.
 
Crianças do meu Brasil
Azul
Anil
Varonil?
 
Que um pouco de gramática
Não é
 Coisa dramática
 
Um pouco de sintaxe
Não violenta a guaxe
 Da aquarela
Da fita verde amarela
 
Eu era aluna
E me soube promissora
 
 
Eu era professora
Não me pude redentora?
 
Segue recado
Hiato rima com pecado?
 
Abro parênteses
Fecho colchetes
Reticências
Dois pontos
 
Só consigo a breve interjeição:
Ah!
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AQUELE HOMEM

Álvaro Faria

Sou aquele homem que não voltou,
que saiu de casa ao amanhecer
e se perdeu para sempre.

Sou aquele homem da fotografia na parede
da casa fechada por dentro.

Sou aquele homem que inventou a tarde,
mas não viu anoitecer.

Sou aquele homem que se perdeu sem saber.

Aquele que não soube nunca,
sou aquele que não soube.

Sou aquele homem que desapareceu,
aquele que acreditou,
e ao se ausentar de si mesmo
sentiu o vazio absoluto de todas as coisas.

Sou aquele homem que se foi
e quando pensou em voltar
não tinha mais tempo,
era tarde demais.

Sou aquele homem que se desfez
depois de enlouquecer
e enlouquecido
tentou refazer o seu destino.

Sou aquele homem que engoliu
um rio
e se afogou adormecido.

Aquele que falou sozinho
diante do espelho
se vendo do avesso.

Sou aquele homem que falava com as pedras
palavras desesperadas
que saltavam da boca
como gafanhotos doentes.

Aquele homem que conversava com os santos
numa igreja sem portas
e que dizia silêncios
em sílabas de gesso.

Sou aquele homem que numa imagem poética
enfiou um punhal no coração
como um poeta romântico do século 18.

Sou aquele homem quase lírico
que chamava os pássaros
para uma ceia de sementes.

Aquele homem que rezava
com os anjos expulsos do céu,
sem saber que eu estava
expulso de mim.

Sou aquele homem que amou 30 mulheres
e matou-se por amor 29 vezes.

Sou aquele homem que ao jogar xadrez
fugiu com a Rainha
para um castelo medieval.

Aquele que diante de Deus
pediu para ser destruído,
mas como castigo deixou-me viver mais.

Sou aquele homem que amou
         mulheres de porcelana,
         com sexo de porcelana,
         boca de porcelana,
         beijo de porcelana,
         língua de porcelana.

Sou aquele homem de porcelana
que se quebra como uma xícara
que cai da mesa.

Sou aquele homem que saiu para dar uma volta
e esqueceu de regressar.

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Aqui sempre tenho estado

Osvaldo Pastorelli

aqui sempre tenho estado
se aqui estarei por muito tempo
só o tempo ingrato me dirá
portanto eu não saberei
o quanto tempo aqui
eu hei de ficar

parado num ponto fixo
silencioso surdo previsto
como o medo quieto
me revela o puro lixo
calando-me o falar
nem tanto prolixo

nada mais me restou
além de prosseguir
nesta tortuosa caminhada
que é só minha  e revelada
será ela ao fim da jornada

trabalho laborioso
me induz ao perigoso
as vezes não sentido
outras até permitido
onde pode ser o sorriso
uma fenda de felicidade

e o que mais resta então
crer na calma da alma
em tudo acreditar
traçar rabiscos
que se cruzam no ar
esticar as mãos
e colher o fruto
que se desejar

o que me resta então
apenas continuar
nunca parar
sempre cultivando
o alimento sagrado
no amor encontrar
o sopro eterno e divino
que me fará em teus braços
me sentir consagrado

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 MULHER QUE REZAVA EM SEU TERÇO
NALDOVELHO


A mulher que rezava em seu terço,
pedia benesses que eu nem sei se mereço.
Depois de algum tempo Deus respondia,
que cada pedaço de pão teria seu preço
e que a paga mais justa era o amor que existia.

Ainda assim a mulher rezava em seu terço
e prometia oferendas, penitências, desvelo,
e pedia ao Pai um lugar ao seu lado.
Depois de alguns dias o Céu respondia,
que para cada degrau haveria um tropeço
e que continuar no caminho já era um começo.

E assim a mulher guardou o seu terço,
abriu a janela, andou pelas ruas,
percebeu dores que não eram as suas.
Depois de algum tempo estendeu suas mãos,
amparou quem havia desabado em tropeços
e aprendeu finalmente a caminhar entre escombros.

E então a mulher se lembrou do seu terço
e agradeceu ao Pai por viver dia a dia
e a cada dia um tropeço,
e a cada tropeço um novo começo.
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Salientes

Cláudia Cardoso
 
Seios pressentem
Seu toque
Bicos
Entumecidos
Pulam muros da blusa
Roçam você
Rogam
Pelo vão quente
Sua boca
Indecente
 
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PROFUNDAMENTE NOS TEUS SONHOS


Queria ir ao teu inconsciente,
consciente de estar onde estaria.
Ao sopro denso do inquieto querer,
vagar nos ninhos do teu ser...
nas paisagens dos teus sonhos.
Mergulhar nos teu delírio natural.

N'algum lugar das tuas lembranças,
das que mais profundamente tens dentro de ti,
deixar-me íntimo, fluido, inteiro.

E,

nos vôos ágeis dos pensamentos,
voar nas asas dos sentimentos.
Ir aos teus olhos e
ver (-te-r-me)
leve e terno
passageiro
      .

Luiz Felipe Jardim

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