outubro 26, 2010

GENTIL-IDADE



Galeria de homenagens poéticas e visuais



"Gentileza", de Derlon
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Grafitti "Profeta Gentileza", de Marcelo Ment


Grafitti Marcelo Ment - no interior da Rodoviaria Novo Rio

Gentil-mente, texto visual do poeta José Carlos Pinheiro Prioste


 
GENTIL-IDADE
[texto do poeta José Carlos Pinheiro Prioste]

...cinzas do anfiteatro circense que se erguem e renascem através de certa voz: o clamor nos desertos da cidade ecoou nos desvãos dos edifícios: interstícios entre a régua e a pétala, pingos d´água nos esgotos do mangue a escorrer o sangue nas artérias das avenidas: gentileza no reino das navalhas do capetal: capítulos de outra história além dos fatos: setas entre as pilastras a indicar paraíso de palavras a povoar de mensagens o rumo insano dos automóveis em procissão: paralíticos olhares navegam entre os dizeres e voam interrogações a exclamar o espanto diante do inaudito: pincéis: implosão de palavras a clamar leitores em novo sermão aos viadutos imóveis: nas entrelinhas do asfalto, nos parênteses que se abrem ao passar o rumor das buzinas: o dito, escrito, para ser lido, aprendido: inscrição rupestre de nova era a reviver a gênese de outro homem: por detrás da gravata e dos óculos persiste o animal a ruminar a fúria insana: por isso a imperiosidade da palavra enfileirada como grafite a convocar a atenção dos passeantes: desavisados se embrenham na selva selvagem: entre os portais se esgueiram nas fronteiras da matéria e se embriagam de si mesmos: o profeta reitera o que não é para ser esquecido nas roletas da urbe: a-cor-dar o cor-ação: entoar a sinfonia de tons no cerne da ausência da cidadania: habitar outra moradia: pilastras de palavras que florescem o sortilégio da terra em trânsito: o poema de cada dia a pulsar o mínimo múltiplo comum necessário à sobrevivência: se a insídia medra entre as lâminas dos vitrais, o profetizar há que se revestir do despojamento da retórica do púlpito para investir contra os moinhos de concreto: e se incerto o porvir, então mais que o certo, semear o insurgir de outra consciência: a gentileza há de engravidar-se no útero das cavernas onde aprisionado encontra-se o rebanho destinado ao matadouro das ideias: a fonte de outro pensar, gêmeo do sentir, se irmana em cortejo de cata-ventos a girassolar o solo infértil das notícias dos jornais: impressões no cimento a indiciar a passagem no deserto a denunciar o delírio do tempo: e o alvorecer de outro que teima em nascer, reviver, florescer além das cinzas...

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